Este barcelonês de 68 anos se aposentou em 2010. Era engenheiro na prefeitura de Montcada i Reixac, onde ocupou este posto desde 1986. Antes, sua atividade sindical, que nunca abandonou, havia motivado sua expulsão de oito empresas – seis privadas e duas públicas. Foi detido 11 vezes por sua luta antifranquista, três vezes torturado e condenado a duas penas de seis meses. É membro do conselho presidencial da Federação Sindical Mundial (FSM) e está organizando o primeiro congresso internacional de pensionistas e aposentados sindicalistas, em Barcelona, nos próximos 5 e 6 de fevereiro.
– Quantos participantes calculam receber?
– Esperamos cerca de cem de delegados dos cinco continentes. Alguns países já confirmados são: Austrália, Estados Unidos, México, Equador, Cuba, Brasil, Colômbia, Uruguai, Somália, Argélia, República Democrática do Congo, França, Itália, Grécia, Chipre, Índia e Nepal.
– Qual é a principal luta que protagoniza a preparação deste congresso?
– Conseguir que em todos os países do mundo se reconheça e aplique o direito a uma pensão pública suficiente para viver dignamente a partir dos 60 anos, ou antes, independentemente se trabalhou ou não. Pois muitos jovens hoje em dia não podem trabalhar e isso não é culpa deles.
– Haverá exposição sobre o que está acontecendo em cada país?
– Sim, o congresso propõe intercambiar experiências dos países. Por exemplo, enquanto na Espanha, em janeiro de 2011, adiava a idade para aposentar de 65 para 67 anos – pacto do PSOE, CO e UGT, na Bolívia se antecipou de 60 anos para 55 e para as mulheres, aos 49 se possuem três ou mais filhos.
– Há novas filiações nos sindicatos uma vez que está aposentado?
– Cada vez mais, pois as demissões levam as pessoas a buscar ajuda e proteção.
– Onde se podem seguir a atividade e os progressos do sindicalismo no mundo?
– Em www.pensionistas.info, por exemplo.
– A motivação e a atividade conduzem sua aposentadoria. Suas metas são essenciais?
– A vida de toda pessoa que deseja melhorar seu entorno, necessita de metas para compartilhar com os demais. Só assim as metas se transformam em conquistas e é bom fixar as metas com base no trabalho coletivo. Esta é a essência de todo sindicalismo democrático e, portanto, da FSM.
– O comunismo foi tido como motivo para continuar lutando, sonhando e trabalhando. Foi utópico 100%?
– O comunismo, como verdadeiro socialismo, não o que prega os que potenciam o capitalismo desde mais de um conselho de administração de multinacionais, representa uma alternativa ao capitalismo da que só temos experiências em vias de construção, ou seja, com defeitos, como é o caso de Cuba. A utopia é indispensável para garantir o otimismo necessário para derrubar injustiças.
– Dê uma mensagem de otimismo.
– No mundo há riqueza suficiente para assegurar que todas as pessoas vivam dignamente se priorizar as necessidades das pessoas diante das decisões do capital, ou seja, dos mercados. No Estado Espanhol, suprimindo a fraude fiscal, havia dinheiro suficiente para incrementar cerca de 60% das pensões públicas.
– Valeu a pena as prisões e torturas?
– Como lutador antifranquista fui um dos que saíram menos maltratados, muitos morreram fuzilados ou passaram dezenas de anos no cárcere ou no exílio. Com a perspectiva dos anos, ver que muitos dos direitos reclamados foram transformando em realidades legalmente reconhecidas, embora os governantes pretendem cortar agora, é uma satisfação.
Quim Boix Lluch é Engenheiro industrial e ativista sindical. Prepara o primeiro congresso mundial de pensionistas e aposentados sindicalistas.